.:Enxaquecas da K471:.
Dói, mas não cansa!
31.8.06
Perdido no tempo
E sem volta possível, tanto menos ida. Sem remetente, nem destinatário. Sem saber donde veio e para onde queria ir.
Foi o que aconteceu a este mail que recebi por engano há mais de um ano, mas tenho-no guardado pela simplicidade e autenticidade dos sentimentos.
Parece-me quando fazemos sonhar sem querer, o que ficam são apenas letras. Estas, pelos vistos.
Pelo menos o sonho existiu e alguém sentiu. Mesmo sem resposta...

E agora que a chuva se silenciou, imagino quantos dizem em palavras; quantos sonhos, pesadelos, ilusões, desilusões, verdades, mentiras, alegrias, tristezas, loucuras e seriedades, e eu aqui a escrever tudo isso.
Ainda resta um pouco de vento na noite, ainda estás omnipresente, apesar de ti ter tido tão-pouco e, todavia, parecer tanto. (Olha, voltou a chuva e não sei a ouves, não sei se chove onde vives, se já dormes e tudo o que acontece fora de ti seja inexistente, como eu aqui. Não sei se me sonhas, se sequer houve motivo pra ficar algo mais do que o efémero da virtualidade. Uma conversa que se tem e logo se esquece, pra maioria, que procura em cada esquina virtual os milagres que nunca acontecem a não ser dentro de nós.)
Parou outra vez de chover.
Este pára e arranca recorda-me a tarde que tivemos. Os comentários sucediam-se mas também paravam pra mais tarde arrancarem. Foi eléctrico, confesso que sim e que os meus olhos brilhavam de curiosidade e emoção.
Há quem se emocione com tão-pouco, diria, um sério e sisudo observador, ao que sempre se podia contrapor que mesmo uma gota de água é capaz de iluminar um rosto, mesmo uma gota de água enlouquece um rosto...
Se me desses um sinal, teria feito o que disse. Leria um poema. Dum dos meus poetas de eleição. Paul Celan. Um suicida.
Dele tenho o livro "Sete Rosas Mais Tarde" e só esta frase é "per se" um poema, mais, esta frase pode ser toda uma obra poética.
Leria o poema e nada mais diria, hoje, pois assim tinha dado a palavra.
Outro dia não sei, penso que não resistiria e tentaria de ti tirar um som. Uma palavra. Nem que fosse uma sílaba. Gosto de palavras, gosto de pensar nelas e de as sentir, de as escrever, de com elas e por elas enlouquecer, mas não apenas escritas.
Gosto também das palavras ditas. Ditas e sentidas. Que vêm de dentro, explosivas e viscerais, que nos cegam como se fossem sol num dia sem nuvens. A limpidez das palavras atrai-me. Sim. Porque eles são sempre límpidas, ainda que delas se possam escrever outras palavras e nunca mais pararmos de as escrever e quem escreve sente ou imagina qu sente e se imagina sente e se sente é verdade.
Talvez um dia me dês uma palavra ou mais palavras. Talvez nada mais digas e a única certeza é que há tantas e milhentas maneiras de proferir talvez, mas apenas numa se escreve.
Procuro ser sempre transparente, de dizer o que sou, como sou e por que o sou.
Não minto nem preciso disso. Não me escondo nem temo. Se sou assim, que mais posso fazer?? Ser eu. Sempre eu. Da única maneira que me conheço. Em perpétuo estado de carência e sempre à beira de acreditar em milagres.
Quero pensar que foste um milagre. Hoje pequeno, amanha médio, e depois, quem sabe se não grande, imenso e sem fim... A verdade é que mais (do) que escrever, preciso de ouvir, ver, sentir, tocar, cheirar, só assim somos completos e eu há muito que não me completo.
E entanto acredito sempre na magia de um dia me completar nem que seja quando decidir criar mesmo o que desejo, nem que seja de mim pra mim, em palavras...
Dor sentida pela K471 @ 19:22
1 Comprimidos:
  • Às 3/9/06 02:38, Blogger Unknown tomou e disse…

    usa as palavras:
    são boas na tua escrita
    e fazem bem aos outros

     
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