.:Enxaquecas da K471:.
Dói, mas não cansa!
2.6.05
Objectos perdidos: Brinquedos
Adorei este título.
Aproveitei-o de um documentário que deu no canal História (tive pena mas não vi).

Recordações, saudades. Objectos perdidos, seja no lugar ehehe, como no tempo (não todos).
É recuar no tempo, é sentir saudade quando nos lembramos do que construímos, e destruímos, em criança, pois decerto todos tivemos um brinquedo ou um jogo preferido.
Eu adorava criar, e adoro. Mas desde cedo, despertei para o trabalho manual ehehe.

Lembro-me, que em dias de chuva, como não podia brincar para o quintal, ficava à porta de casa a ver a chuva cair, enquanto cozinhava os meus bolos de neve ehehheh.
Consistia basicamente em sabão da loiça ehehhe junto com água, em copos brancos de café pequeninos. Batia, batia, até ficar em "castelo".
Consumidor final: o meu irmão mais velho que era obrigado a comprar.
Recordo-me também, das vezes que pegava nas bonecas e jogava-as para o terreno do vizinho. Não gostava de bonecas. Aconteceu o mesmo com a chucha.
Tinha tantos brinquedos, que para estarem bem guardadinhos, só podiam estar dentro de uma caixa de papelão. Então era a minha caixinha. Apesar de tudo, era a minha caixinha.
Tive a sorte de partilhar a minha infância com primos também da mesma idade.
A minha prima, passava muito tempo cá em casa, e ao contrário de mim, só queria bonecas.

Ainda lá fazia um esforço, e tornava a coisa ao meu jeito. De donas de casa, e mãe de filhos, como que num toque de magia, tornava aquilo em Supermercado cheiínho de clientes eheheh, ou então em escolas cheiínhas de alunos. (era demasiado para ela eheh)
Certo dia, tão farta que estava, antes de ela chegar, pego em tudo, e jogo os brinquedos, um por um, para o terreno do vizinho. Ainda sobraram alguns. (senão minha mãe desconfiava, e depois uiii).
Dos que restaram, haviam uns que já não davam para mais nada. Mas guardei-os apenas para vêr a carinha da priminha quando me desfizesse deles (golpe baixo eheh).
Bem, era berreiro, até lhe puxar os cabêlos e dizer-lhe: "Cala-te"
Desse tempo, ainda restou uma boneca: Uma Barbie Noiva. Lembro-me tão bem do dia que a minha mãe ma ofereceu. Estava eu no Hospital para ser operada à garganta...
Lembro-me de olhar para a boneca e ficar maravilhada com o vestido. Sempre disse que o meu teria de ser como aquele.
Ainda olho para o meu cotovelo e lembro-me da vez que optei por subir a minha rua à boleia (como fazem os brasilerios quando o eléctrico já vai cheio eheheh).
Bem, caí aos rebolões. Nada de grave: uma feridazinha no cotovelo.
Olho para a mão, e ainda vejo pedrinhas dentro da pele ehehehehe. Desta, foi mesmo demais. Parece que ainda oiço a minha mãe dizer:
-Ah rapariga, se teu pai te vê assim, ele mata-te! Entra já para dentro de casa, e esconde-te.
Bem, tão simples, e doloroso ai, quanto isto:
Aqui na redondeza passa a via rápida.
Quando estava em obras, era uma loucura. Ai tanto barro que tirei de lá eheheh. E com toda aquela extensão plana de terra, era o meu campo de batalha.
Os fins-de-semana eram sempre loucos. Eu e o meu irmão fugíamos de casa (até parece oiço a minha mãe gritar por nós ehehe).
Optamos por subir, subir, para depois descermos lançados de bike. O lugar é conhecido: na zona dos novos controversos postos de abastecimento da Repsol na via rápida - Depois da Ribeira de João Gomes.)
Bem, houve qualquer coisa que, até o dia de hoje, não me apercebi, e só me via pelo ar, e o meu irmão com cara de aterrorizado parado mais à frente.
Depois da queda, vieram os rebolões, e a bicicleta, sei lá, nem me lembro.
Bem, senti uma dor "seca" na barriga, caí mesmo de frente, de "chapa" mesmo. Senti os ossos estalarem, a recuei os pulmões num gemido de dor, e angústia.
Depois de tirar a cara do chão, e afastar os cabelos dela, so via sangue nas mãos, carne levantada, e tudo mais. A Tshirt cheia de sangue na zona da barriga. Levantei-a e reparei que tinha alto corte na zona do estômago. Aí comecei a chorar, a dizer "Ai, ai, ai".
Meu irmão trouxe-me para casa, cheio de medo. Se ele era o mais velho, tinha o dever de cuidar de mim. Era o calvário dele, coitado.
Então, deixou-me à entrada do bêco e disse-me:
-Fica aqui, que vou vêr se o pai está na varanda.
E assim foi, encostei-me num muro, sem forças, e minutos depois voltou, dizendo que a passagem estava livre. Lá fomos nós. Ele tinha preparado a minha mãe.
Entrei dentro de casa em silêncio, mas os gritos de dôr saltavam-me da pele.
Minha mãe aterrorizada, até levou as mãos à cabeça e disse:
-Ah rapariga se teu pai te vê assim, ele mata-te! Entra já para dentro de casa, e esconde-te.
Fui para a casa de banho. Ela começou a tratar de mim, enquanto o meu irmão tinha ido buscar as bicicletas.
Até rezei quando me preparava para lhe mostrar a barriga. Ela...sentou-se!
Tratou-me de todas as feridas, ralhando comigo entredentes e quase chorando.
Pegou na minha mão, cortou, soprou, limpou, e sei lá... Não fez mais porque não pôde.
A marca desse dia está ainda em mim. Na mão.
As pedras, àquela velocidade, eram facas... Tenho-as ainda metidas na carne.
Nunca mais lá fui, e sempre que lá passo, liberto um sorriso de arrepio e dôr.
Loucuras que me custaram caro e até o dia de hoje meu pai não sabe eheh.
Recordo-me de tudo. Saudade...
E vocês, recordam-se?!
Dor sentida pela K471 @ 06:32
4 Comprimidos

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