Não tenho passado bem, daí as minhas ausências dos sítios que agora fazem-me falta, e presenças nuns que nem deveria sequer pensar, muito menos estar... maldita solidão que me arrasta. Esta semana tenho atrasado tudo. Só sinto dor, saudade, revolta, tristeza. Tenho afastado tudo de mim. Amigos, colegas, pessoas especiais, e até mesmo aquilo que gosto de fazer. Até tenho adiado exames clínicos fulcrais para um curso de formação que daqui a dias começa e que eu vou participar. . Esta semana fui a um funeral. A mãe de um grande amigo faleceu... Depois disso, quando estava a chegar ao parque de estacionamento, mas já de saída para ir à pata para o work, recebo uma outra notícia da mesma vertente... Desde o dia 21 até hoje, sinto-me qual alma penada. Ando por andar, respiro por respirar e até às vezes esqueço-me de o fazer... A funerais fui a poucos. Que me lembre o primeiro foi o do meu avô (pai da minha mãe). Tinha eu 7 anos. Ainda me lembro de ouvir e ver o meu pai gritar para que não fechassem o caixão para destinar à sua última morada... Depois acho que fui ao da minha bisavó. Uns 3 anos mais tarde. Há uns 4 atrás ao de um vizinho meu, que nunca o tinha visto, mas como era irmão da vizinha, que minha mãe tanto falava, fiz questão em assitir. Comovi-me muito. O rapaz sofreu. Os maus tratos foram tantos que o deixaram inválido para o resto da vida. Tinha a mesma idade que eu... ou senão mais velho uns anitos, mas não muitos. Há ano e meio, o pior de todos. À maior perda da minha vida. O meu pai. Há dias, o da mãe do meu amigo. Horrível. Depois da morte de meu pai, foi o 1º. funeral a que assisti, e com uma grande dor em saber a causa da morte. A dor aguçou-se ao me lembrar que ele também já não tinha pai. Mas piorou ainda mais, ao pensar na dor que é perder um pai. Imaginei o sofrimento dos filhos, e vice-versa. A dor de perder um filho, ou um pai, independentemente do tempo que já lá foi, é como se tivesse sido ontem... a dor é tão forte que está sempre presente. ...Cheguei e fui procurá-lo logo, acertando claro no sítio onde poderia estar. Tal como eu... ao lado do caixão, totalmente abafado de preto a chorar. O coração acelerava-me. Tinha um ramo de rosas brancas nos braços, e estes tremiam, mas ao mesmo tempo estava louca por lhe abraçar. Mas receava não conseguir. Cheguei mesmo a dizer a uns amigos que lá estavam "EU NÃO CONSIGO" já de lágrimas nos olhos e a tremer que nem varas verdes. Por fim, empurraram-me. O corpo todo me tremeu quando lhe abracei. Senti aquela dor, entendi perfeita e dolorosamente. Tivemos envolvidos num abraço moroso e uníssono, cheio de lágrimas misturado de palavras de conforto e de dor. Depois tomámos os nossos lugares. Tinha começado a missa. Sentei-me ao lado da minha mãe. Chorei o tempo todo. Os meus olhos faziam sempre a mesma trajectória. Olhavam o tecto da capela como se estivesse a olhar o céu, e perguntava "Porquê? Eles precisam de ti...", descia os olhos para os meus amigos lá ao fundo mergulhados num pranto, e depois seguia até ao caixão. Fazia o mesmo percurso vezes sem conta... perdia-me... sem respostas. É deprimente. Todos os sentimentos que senti há ano e meio atrás, precisamente num ritual parecido àquele, era como se tivessem bem vivos dentro de mim, adormecidos mas loucos por acordar. E assim foi... revivi tudo. Chorei por tudo. Fiquei inchada de tanto prender a loucura da dor, apetecia-me gritar, soluçar. Os meus lábios pareciam que rebentavam. Os meus olhos ardiam. Passei o dia que nem me reconheci ao espelho. Tenho a certeza que todas as pessoas que ali estavam pensavam o mesmo que eu… Um dia destes calha-nos! Pois é, meus caros, ninguém escapa. Mais tarde ou mais cedo. Quanto mais tarde melhor…. Abraços e mais abraços, choros e mais choros, e lá viemos embora. ...Quando vinha no caminho, ao lado a minha mãe ainda estava fora de si tentando perceber, tranquei os olhos na traseira do camião que ía à minha frente e pus-me a pensar alto... "Que desperdício passarmos uma vida inteira a correr de um lado para o outro, tipo baratas tontas ou formigas sem perspectivas, para depois nada levarmos para o caixão! Não somos nada..." Para onde irão as memórias, os sentimentos, o que vivemos e a angústia daquilo que deixámos por fazer? Ficam com os outros. E NÓS? Eu acredito na reencarnação. Como um castigo. Do género, temos que cá voltar quantas vezes forem precisas, até a nossa alma estar pura. Mas como passamos a vida a fazer asneiras, levamos com uma eternidade de reencarnações até o conseguirmos. Fazes merda agora, pagas na vida seguinte, e daí por diante. Será assim? Ou será que tudo acaba mesmo na pázada de terra que nos mandam para cima? Finito. The End. Kaput. Fim. Há quem diga que o nosso passaporte para a eternidade está na continuação dos nossos genes. Por aí não me safo, não tenho filhos para me perpetuarem, nem tenciono tê-los tão cedo. Mas, e o resto? É tudo para os bichinhos comerem? Não….. Pelo sim e pelo não, e porque até sou do contra e sofro um cadito de nada de claustrofobia, vou deixar escrito que quero ser cremada. Sinto-me revoltada... Por agora, paz à alma de todos aqueles que lá vão caminhando sabe-se lá onde. Que olhem por nós e que a partida deles faça-nos pensar na vida, na sua fragilidade, na nossa pequenez. Termino com uma frase que meu pai dizia e ainda diz: "Recorda-me, nunca me desejes". E assim temos de ir vivendo... Força a todos que passam ou passaram por momentos assim. ... e Respeitem a vida! |
Nem sei que escreva.
Nunca soube lidar com estas situações. Quando alguém me comunica uma morte de alguém próximo fico calado. Solidário, mas em silêncio, pois sei, e já o fiz, que se disser algo, será exactamente o que não devia dizer na altura.
Considero que já tive a minha dose de funerais, o pior de todos o da minha avó, que vivia conosco. Tinha 13 anos e foi horrível, cheguei quase a desmaiar e tiverem que me tirar dali.
Depois uma tia e mais tarde uma prima. Pelo menos estes são os mais me marcaram e de que tenho memória. Neste último, nada daquilo fazia sentido. Parecia um ritual de sofrimento. As pessoas teóricamente vão para prestar as últimas homenagens.
Mas perante quem? Quem partiu, "está-se nas tintas", e numa probabilidade de estar a "observar", não é pelo facto de lá ver alguém, que vai mudar de opinião sobre essa pessoa.
E estamos a despedirmos de quem? De um corpo sem vida? A despedida já foi feita enquanto a pessoa ainda era viva.
Ou seja, só lá vamos para sofrer mais um pouco. Nessa altura, inconsciente, e mais tarde conscientemente, tomei uma decisão, talvez um pouco egoísta, de que não iria a mais nenhum que não justificasse a minha presença.
Para ver os outros sofrer?
Partilhar o sofrimento?
Estava revoltado, nem sabia bem porquê.
Desde aí nunca mais fui a nenhum, e julgo que as pessoas têm entendido.
Não consigo lidar com todo aquele sofrimento sabendo que não há nada que possa fazer para que se sintam melhor.
Discordo e condeno o "dever social" de comparecer num funeral, só porque se conhecia a pessoa e "devemos" lá ir.
É uma coisa íntima e não faz sentido toda aquela "procissão". Quem está a passar tamanha provação só quer ter próximo de si os entes mais queridos, todos os outros, familiares ou não, são dispensáveis, pelo menos naquela altura.
Posteriormente serão importantes para ajudar a seguir em frente.
Quem vai reparar, naquela situação, se lá estivemos ou não, ou ainda, comentar, fulano não apareceu. Eu sei, há quem o faça, mas essas pessoas que lá estão para os mexericos, os "papa-funerais" não merecem nenhuma consideração.
Por vezes fico com a sensação de que agumas pessoas precisam de ver sofrimento.
Eu sei que poderei ter que ir a mais algum...Poderá ser inevitável, tudo depende do destino, mas espero que isso nunca aconteça e até agora sempre evitei pensar nisso.
Não sei se me expressei do melhor modo, mas é a minha opinião, se é ou não correcta, não sei...