.:Enxaquecas da K471:.
Dói, mas não cansa!
29.10.05
Noite dos Diabos!
Há momentos na vida em que só apetece soltar o "monstro" que há em nós, "deslargar" o lado mais animalesco da nossa personalidade e engolir a terra.
Freud se calhar tem uma explicação para esta nossa vertente mais negra, mas o que é certo é que estamos quase em cima daquela altura do ano em que, oficialmente, podemos vestir a pele do lobo, e "comer" uns cordeirinhos inocentes... (nhami, nhami!)
Antes de mais, há que explicar que o actual nome desta festa profana tem origem na expressão irlandesa "Hallow E´en", que celebra a noite antes do Dia de Todos os Santos, celebrado no dia 1 de Novembro. Afinal de contas, no inglês arcaico, o verbo "to hallow" significava "santificar".
Grande parte das raízes desta efeméride remonta à antiguidade celta, onde este povo acreditava que na noite que precede o novo ano, a fronteira entre o mundo dos vivos e a dos mortos tornava-se vaga. Assim, druidas celebravam o fim da época das colheitas com enormes fogueiras "sagradas", onde se faziam sacrifícios de colheitas e gado.
Com o avançar dos tempos, esta festa intimamente pagã começa a ganhar novos contornos.
Após ter conquistado as terras de influência celta, o império romano instituiu uma efeméride para homenagear e recordar os finados, em finais de Outubro.
Já no século VII, o Papa Bonifácio IV designou o dia 1 de Novembro como o Dia de Todos os Santos, um dia para recordar os santos e mártires da Igreja Católica.
Tal como as "teorias da conspiração" disseminadas pelo "O Código Da Vinci" de Dan Brown, há quem diga que esta iniciativa papal teve o propósito de abafar as festas pagãs, que tinham grande tradição nestas alturas.
Curiosamente, foram os imigrantes europeus que levaram estas tradições para os Estados Unidos. Era para se parecer simpático.
Na segunda metade do século XIX, este país foi "inundado" com irlandeses que fugiam à fome provocada pela crise da batata, que se arrastou entre 1845 e 1849.
Mas a predominância da religião protestante (viva ao Martinho Lutero!!) na Nova Inglaterra da altura limitava este tipo de expressão profana, e a celebração do Dias das Bruxas passou a ser feita de uma forma transgressora. Ou seja, quem tinha o costume de homenagear os seus entes queridos falecidos à sua maneira, tinha de o fazer às escondidas: no meio de bosques assombrosos, com uma fogueira e rituais que metiam medo a eventuais espiões protestantes encarregues de denunciar os pagãos.
Datam destas alturas, as terríveis caças às bruxas, que fazem parte do imaginário norte-americano. Um exemplo deste ambiente persecutório pode ser visto no filme "As Bruxas de Salém - The Crucible", de 1996, protagonizado por Daniel Day-Lewis e Winona Ryder.
Embora em Portugal não haja muita tradição de celebrar o Halloween, conhecido por cá como o Dia ou a Noite das Bruxas, a coisa mexe muito com os marados dos Estados Unidos. Tanto assim que é um feriado nacional (não seria mal se fosse assim em Portugal).
O imaginário de "bruxedo" que os americanos andaram a espalhar ao longo de séculos infiltrou-se no imaginário da cultura "pop" ocidental. Há poucas pessoas nascidas em finais do século XX que não associam a palavra Halloween a bruxas, gatos pretos, demónios ou criaturas macabras. Séculos e séculos de tradições e histórias que passaram de geração em geração criaram uma espécie de misticismo milenar em torno desta época do ano.
Hoje em dia, em terras do Tio Sam, a tradição mais forte deste feriado corresponde às habituais sessões de "trick or treat", onde milhões de crianças pelo país fora se vestem para ir de porta em porta, à procura de doces.
A explicação mais vulgar para este comportamento remonta, de novo, aos primórdios do Dia de Todos os Santos, na Inglaterra.
Por esta altura, os mais pobres iam de porta em porta para mendigar comida às famílias dessas moradias. Estas, por sua vez, davam pastéis chamados "bolos de alma" ("soul cakes"), a troco de promessas para que estes mendigos rezassem pelos seus antepassados.
Esta tradição terá sido encorajada pela própria Igreja Católica, que a preferia à prática antiga de deixar comida e vinho na rua para os espíritos que supostamente vagueavam perto dos locais onde morreram.
Quanto à tradição de envergar máscaras ou disfarces, esta é explicada pelo facto de as pessoas terem receio de sair nestas alturas do ano. Como acreditavam que havia espíritos por todo o lado, achavam que o uso de um disfarce evitaria que fossem reconhecidas pelos fantasmas.
Até usavam roupas rasgadas para dar a impressão de que eles também eram fantasmas
com o avançar dos tempos, a coisa mudou um pouco.
As crianças começaram a ir de porta em porta para pedir guloseimas. Se o morador não desse qualquer coisa, eles tratavam de pregar algum tipo de partida ao vizinho antipático. Daí ter surgido a expressão "trick or treat".
Já ao virar do século passado, o que a malta queria era pôr de lado as superstições, as bruxarias e os fantasmas do passado para colocar a tónica da festa na diversão.
Aqui surgiram as iniciativas comunitárias de organizar desfiles, onde a vertente "monstruosa" era de facto realçada, mas sem a carga assustadora dos tempos antigos. É por isso que há cada vez mais desfiles de Halloween, com escolas ou grupos de cidadãos a se trajarem a rigor.
Mas Halloween não é só doces, se formos a ver, a faceta mais visível, especialmente no que respeita ao mundo ocidental, é o "marketing".
A partir da década de 50 do século passado, esta festa anual passou a ser um negócio. Só nos Estados Unidos, este feriado movimenta qualquer coisa como 6.9 mil milhões de dólares por ano, o que o torna no feriado mais rentável do ano, logo a seguir ao Natal.
Qualquer série de televisão tinha que ter um ou dois episódios baseados nas peripécias do Halloween.
Um exemplo primoroso desta estratégia é a série "Os Simpsons".
Já há alguns anos para cá, esta família de bonecos dedica-se a um especial, onde até o genérico é alterado. Por exemplo, o criador passa a ser conhecido por "Mad" Matt Groening e o produtor por James "Hell" Brooks.
Na Região, alguns espaços de animação nocturna irão promover noites de "terror", onde a máscara e o traje apenas ajudam a realçar os nossos instintos mais primitivos.
E a ver vamos se é desta que vou...!!! Algum monstro por aí que queira me fazer companhia?
Dor sentida pela K471 @ 12:55
4 Comprimidos:
  • Às 29/10/05 14:59, Anonymous Anónimo tomou e disse…

    Uma Loba solitária numa noite de Haloween uiva à Lua que passa! Que lhe diz? Que a noite cheira a carne fresca trazida pela leve brisa nocturna! Assistirei, pois, ao festim, sentado numa poltrona à beira-mar... protegido pela cruz do sul e a do norte: uma em mar encapelado, outra em pico altaneiro e eu a meio vendo a Loba dançar!

     
  • Às 1/11/05 19:41, Blogger K471 tomou e disse…

    Para dizer a verdade? Tive um dia dos diabos, a noite é que foi calma.
    Vesti o disfarce muito cedo. Deviam ser 20:30 e já tinha o pijaminha vestido.

     
  • Às 4/11/05 20:54, Anonymous Anónimo tomou e disse…

    Abracadabra!!!
    As Bruxas tiveram sorte, porque eu (Angel) não saí, anjos e bruxas não resulta muito bem, no entanto o meu lado diabólico teria gostado de desbundar (dançar) nessa noite atribulada.

     
  • Às 14/11/05 22:43, Blogger K471 tomou e disse…

    Talvez para o ano, quem sabe?!
    Tenho de começar a pensar mais na desbunda! Tenho falta disso!

     
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