.:Enxaquecas da K471:.
Dói, mas não cansa!
30.10.05
Gripe das Aves, na Madeira - A preocupação!
Tirado hoje do Dn local. Está demais!!!! Apesar do gozo da gente da minha terra, o que importa é que dá para dar algumas gargalhadas!!!
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«Será que isso é verdade?»
Dona Serafina cruza os braços e olha desconfiada quando lhe falamos da gripe das aves.
Ali, no sítio do Espigão, o alcatrão é novo e a televisão um mundo onde se misturam novelas e notícias. Todas vistas com a mesma crença ou desconfiança.
«Ainda ontem foi o funeral daquele velhinho da novela. Mas penso que aquilo é tudo mentira» , diz Florinda enquanto percorre o espaço entre o galinheiro e a casa onde vive.
É assim: tudo pode ser mentira ou verdade. Não se sabe ao certo.
Na era da globalização até mesmo no distante Espigão a gripe das aves é assunto de conversa, mas a importância que se lhe atribui não é muita.
As galinhas não são um bicho estranho que se vende às partes dentro de embalagens assépticas no supermercado, divididas em coxas, pescoços, peitos, moelas e fígados. Muito pelo contrário.
São compradas ainda pintos e tratadas com todo o esmero e dedicação. Uma ou outra acaba por morrer.
Os antigos dizem que as galinhas «estalam» com o calor do Verão. A vida e a morte são ali encaradas com normalidade. Animais e pessoas travam, em conjunto, uma luta por um quotidiano nem sempre fácil. A morte é a certeza que se encara com a mesma força com que se enfrenta as dificuldades. Gente e bichos morrem.
Agostinha sabe de tudo isto. Uma das suas galinhas morreu na semana em que lá estivemos. E até uma «cadelinha», que lhe tinham dado para tratar, teve o mesmo destino. «Deram-me o bicho e disseram-me que comia de tudo. E comeu veneno». conta. Para trás ficaram dois cachorros ainda de olhos fechados.
Têm sido alimentados a leite que comprou no supermercado da Ribeira Brava. E, no jogo incerto da vida, estão vivos contra todas as probabilidades, e muito à custa da dedicação que as pessoas do campo têm aos seus animais.
As galinhas compram-se para matar. Há que garantir a mesa todos os dias. Mas até ao fim são tratadas com todos os cuidados.
Serafina diz que a irmã de Agostinha «muda as fraldas às galinhas». Não literalmente, é claro, mas a verdade é que todos os dias coloca papel no fundo do galinheiro e muda sempre que está sujo. «É uma trabalheira».
São meses e meses a cuidar dos bichos, ali mesmo à porta de casa. Por isso, é claro que não têm medo de comer a carne, nem os ovos. As galinhas de casa são de confiança, mas já olham com outros olhos para a carne do supermercado. «Não é tão gostosa».
Isto também sabe Florinda que nos levou até ao galinheiro, onde cuida de várias galinhas e de um porco já a reclamar por comida, quando o relógio bate quase as três da tarde. «Há uma "molesta" nas galinhas lá fora em Lisboa». Florinda viu a na televisão. Mas isso é lá longe. Nada que lhe diga muito respeito. Gosta de tratar das galinhas em casa, porque depois sabe o que está a matar», realça, enquanto coita com carinho a galinha que tem ao colo.
A gripe das aves também é coisa que não preocupa José Faria Gonçalves. De foice ao ombro, diz que «não percebe que as frangas que tem no galinheiro estejam doentes». É claro que de vez em quando morrem. Toda a vida teve galinhas, toda a vida cresceram, e toda a vida «azoigaram».
A gripe das aves não lhe tira o sono. «Ainda na semana passada morreu-me uma franga, começou-lhe a cair as penas e "azoigou"».
É ele próprio quem cuida do galinheiro. Além de milho em grão e da ração, as galinhas comem um pouco de tudo. «Comprei-lhes uma dentuça», ironiza.
Também na Lombada, Ponta do Sol, a gripe das aves não mete medo.
Um jovem resume a coisa em poucas palavras: «Galinhas? Quando estão doentes estalam e pronto. Vão pelos pinheiros abaixo». É esta a naturalidade de quem vive perto da natureza, e olha para os conselhos dados na televisão e nos jornais com alguma incredulidade. Até porque «hoje em dia morre-se pelo que se come, pelo que se bebe, e «até por fazer sexo».
Dona Arminda está no quintal, mas não resiste a descer e a perguntar o que estamos por ali a fazer.
«São da agricultura? Um dia vieram aí, escreveram umas coisas nuns papéis mas nunca mais apareceram».
Mas nós não éramos da agricultura. Queríamos saber o que pensava da gripe das aves.
Arminda encolhe os ombros, olha para o fim da estrada e dispara: «Então agora vão vacinar as galinhas?».
A possibilidade parece-lhe tão estúpida quanto pensar que vamos ser eternos.
«Eu sei que vou morrer um dia, com vacinas ou sem vacinas». Depois, ainda há o caso da vizinha que se foi vacinar contra a gripe e que ficou pior. Andou dias a queixar-se. O melhor mesmo é ficar quieta. O que é preciso é trabalhar, porque quem não o faz, não come. E, quanto às galinhas, vão continuar a morrer somo sempre aconteceu. Das mais variadas razões. «Há semana passada apareceu aí um "perro" e matou cinco de uma só vez».
As senhoras Deolinda e Rosa também não estão a pensar deixar de comer carne de frango. «Ainda hoje comi um ovo cozidinho», diz uma delas. Gripe? Também os humanos apanham, e daí não vem mal nenhum ao mundo. Se no Funchal têm medo de comer, podem comprar «e mandar para a Ponta do Sol que ninguém recusa».
Irene Inácio tem galinhas e patos, e não tem a mínima preocupação com a gripe das aves. «Tenho é medo das pessoas que são falsas. Aquelas que ouvem um dedo de conversa e contam um braço». Esse é o seu receio.
O resto acha que é tudo mentira, e diz que também já inventaram doenças para vacas e porcos. Para demonstrar que nada teme, entra no galinheiro, chama uma das «queridas», traz para o colo, vira-na ao contrário e mete o dedo para ver se tem ovo. Alguém falou na gripe das aves?
Dor sentida pela K471 @ 12:50
2 Comprimidos:
  • Às 3/11/05 00:50, Blogger K471 tomou e disse…

    Hoje levaste um, de meio campo!

     
  • Às 4/11/05 20:29, Anonymous Anónimo tomou e disse…

    Olá!

    Não é por morrer uma andorinha que a Primavera acaba, no entanto o seguro morreu de velho :)
    A vida continua, seja lá de quem for...

    hasta.

     
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